OS OIO (Michel Croz)

“Es como cuando te levantas una mañana y ves que hay niebla después que haya salido el sol. Es como ese breve instante que hay hasta que se quema. El amor es una niebla que se quema con el primer rayo de luz de la realidad.” Charles Bukowski en documental “Nacido en esto”.

Comezó foi ansim torcido. Eya me oiaba nus oio. Eu soi feio, vesgo, enclenque. Ninguem me da ni as hora. Eu nunca tive tempo. O tempo sempre foi um luxo dus bundinha da Saranda. Eu sempre tinha era que trabaia. Trabaia cargando caixom de verdura cuando tinha dez ano. Ela me oio direto nus oio. Desvistiu as minha tripa. Me pus as tripa de fora. Abuela tava mal das tripa, tinha se engasgado cum pedazo de carne de oveia, tava ela nu hospital. A mia mae eu nunca conheçí, me deixó e se foi cum camionero de San Paulo, diz abuela. Meu pai tambem nunca conoci. Tampoco fiz question cuando mia mae faló dele. Diz que ele morava la pur os lado de Montevideu.

Ela tava era cherosa, bonita. Tava bonita! Vinha cum un monte de gurias, todas arrumadinhas pru baile. Eu tava falando cum o Galego dun negocio que a gente tinha. Ai, ela me oio nus oio. Eu era todo oio. A lua era oio. Um grande oio branco. A rua era oio. As casa era oio. Tudo mundo era oio. Abuela diz que eu divia era casá, te uma muie boa y trabaiadera, que lave, cozinhe e planche pra eu. Mas eu nao tenho sorte pras muie. Elas riem deu. Me acham engraçado, desajeitado e naum querem namora comigo. Desajeitado tava eu com eses oio negro encima deu (“eu vendo uns oios negro / queim me quiere comprar / os vendo por feitiseros / porque mi pagaraum mal”, escuitei no radio, vinha de dentro do buteco). Yo naum sabia pra onde corré, pra onde fugí. Os oio deya. Eya naum deixava de me oia. Se encarnó em eu. Entaum eu fui ate eya como um raio en liña reta, peguei foi um soco com a mia cañota, no meio dos oio dela, na perfeita carita bonitinha dela. Os oio negro ficarum roxo. Ai eu sai de fininho sem oiá pa trás. Eu naum gosto de oia pa trás. Abuela diz que traz e mucha ma sorte.